HABITAT PLANCTÔNICO-PELÁGICO

A heterogeneidade fisiográfica do estuário, com marismas, zonas rasas abertas ou protegidas e canais profundos oferece uma grande diversidade de habitats, os quais interagem entre si, com a área límnica e com a costa adjacente através do transporte de sedimentos e plâncton, e da migração de organismos. A precipitação pluviométrica e os ventos controlam as trocas de água entre o ELP e a região costeira, sendo os principais fatores responsáveis pelo transporte de fito- e zooplâncton, larvas de invertebrados e ovos e larvas de peixes. Variações marcantes ocorrem na composição de espécies da comunidade planctônica em curta escala (horas, dias), mesoescala (sazonal, meses) e de longo prazo (inter-anual). Durante períodos de vazão de água doce, organismos de regiões oligohalinas e de água doce como cianobactérias (Anabaena, Aphanizomenon, Microcystis), clorofíceas (Planctonema), diatomáceas (Chaetoceros subtilis), cladóceros (Moina micrura), copépodos (Notodiaptomus incompositus) e ovos e larvas de peixes (Parapimelodus nigrebarbis), são os componentes mais importantes do plâncton.

 

A entrada de água salgada propicia uma maior diversidade planctônica com o crescimento de diatomáceas eurihalinas (Skeletonema costatum, Cerataulina, Chaetoceros, Rhizosolenia, Coscinodiscus, Odontella) provenientes da região costeira, juntamente com espécies de copépodos marinhos (Acartia tonsa e Euterpina acutifrons), larvas de poliquetas, moluscos, crustáceos e peixes. Durante períodos prolongados de água salgada no estuário e elevada temperatura no verão, diatomáceas e dinoflagelados marinhos ocorrem em conjunto com espécies neríticas de cladóceros (Pleopis polyphemoides, Penilia avirostris), misidáceos costeiros e a maior abundância de ovos e larvas de peixes. Destes, 88% dos ovos e 66% das larvas são de espécies das famílias Clupeidae (ex. Brevoortia pectinata), Engraulididae (Lycengraulis grossidens) e Sciaenidae (Micropogonias furnieri), enfatizando a importância do estuário para a sua reprodução, alimentação e crescimento. Já peixes estuarinos residentes (Odonthestes argentinensis, Atherinella brasiliensis, Genidens genidens) dependem menos de mecanismos de transporte de água, utilizando estratégias alternativas de reprodução (ovos aderentes; incubação oral) para assegurar a sua permanência no estuário.

 

Cerca de 100 espécies de peixes marinhos e anádromos (ex. Genidens barbus e G. planifrons) migram para o estuário e se beneficiam da abundância de alimentos, contribuindo significativamente para a alta produção biológica da região. A maioria dos peixes marinhos são migradores facultativos ou oportunistas, entretanto os juvenis e sub-adultos de algumas espécies parecem ser usuários obrigatórios dos criadouros no estuário, muitos dos quais (Mugil spp., Micropogonias furnieri, Genidens barbus, Macrodon ancylodon, Menticirrhus americanus, Paralonchurus brasiliensis, Cynoscion guatucupa, Umbrina canosai) representam uma fração importante das capturas da indústria pesqueira no Sul do Brasil.