HABITATS DE PRAIAS DO ATLÂNTICO


Zona de Arrebentação e Praia

A alta densidade e biomassa de invertebrados nas águas da zona de arrebentação oferece alimento abundante para juvenis de peixes como o pampo (trachinotus), tainha (Mugil), papa-terra (Menticirrhus) peixe-rei (Odontesthes bonarienses). As águas rasas provêem proteção contra grandes predadores como raias, pequenos tubarões e mamíferos marinhos. Nas areias finas (granulosidade 0,12 - 0,25 mm) da zona intertidal e de varrido da praia, grande número de ostras (Mesodesma mactroides e Donax hanleyanus), poliquetas (Spio gaucha) e crustáceos (Emerita brasiliensis e Excirolana armata) se alimentam de detrito orgânico e de fitoplâncton, especialmente das densas agregações da diatomácea Asterionellopsis glacialis. Na maré baixa, invertebrados intertidais são uma fonte vital de alimento para muitos pássaros residentes como o ostreiro (Haematopus) e migratórios como maçaricos (Calidris) e batuíras (Pluvialis e Charadrius). Gaivotas (Larus dominicanus) estão entre os pássaros mais numerosos na praia e, juntamente com garças (Egretta thula, Ardea cocoi) e gaviões (Milvago chimango, Polyborus plancus) se alimentam de lixo deixado na praia. Pássaros migratórios encontram locais abrigados com fácil alimentação e nidificam em praias desertas como as do Sul do Brasil. Portanto, a conservação destas áreas tem significância mundial.

 

 

 

 

Supralitoral e Dunas Frontais

A ação das ondas e a energia do vento resultam no transporte de areia da praia influenciando na estabilidade das dunas frontais, e na composição da vegetação herbácea do supralitoral. O supralitoral é um ambiente instável sazonalmente devido a inundações erosivas de tempestades, sendo colonizado exclusivamente por Blutaparon portulacoides, vegetação rizomatosa perene que captura a areia trazida pelo vento e forma dunas embrionárias, de até 1 m de altura. As condições terrestres favorecem uma fauna de besouros (Bledius, Cicindela), embora também ocorram espécies marinhas como o caranguejo maria-farinha (Ocypode quadrata). Espécies do supra litoral se alimentam de material detrítico na linha de lixo.


A maior parte do fluxo de areia originada da praia não é retida pelas dunas embrionárias, mas acaba depositando sob a influência de tempestades de maré, em estandes da gramínea Panicum racemosum. A dispersão clonal desta planta e seu crescimento vertical promovem uma deposição eficiente de areia (70 cm ano-1), equilibrando a erosão durante os períodos quando prevalecem ventos provenientes do mar, levando a formação de dunas de 4 a 6 m de crista. Na base destas dunas, espécies anuais como Cakile maritima e Calycera crassiflora ocasionalmente escapam dos rigores do supralitoral. Ao longo do tempo e com a distância do mar, populações de Panicum racemosum transformam-se de "invasoras", passando por "maduras" até chegar ao estágio "regressivo", expresso por uma redução gradual da densidade populacional em resposta a deposição de areia e a entrada de nutrientes. Nas dunas com reduzido acréscimo de areia Gamochaeta americana e Senecio crassiflorus podem tornar-se dominantes localmente. Roedores (Ctenomys flamarioni e Calomys laucha) são comuns em dunas frontais mais secas onde ingerem sementes e tecidos de planta. A cobertura de plantas das dunas frontais e substratos secos também oferecem nichos para um grande número de insetos (>40 coleópteros), os quais são predados pelo sapo da areia (Bufo arenarum arenarum), rã da areia (Pleurodema darwini) e lagarto (Liolaemus occipitalis).


Uma grande diversidade de plantas e animais habitam as depressões secas e sazonalmente inundadas, atrás das dunas frontais, devido a elevada estabilidade de substratos e proximidade do lençol freático. A gramínea endêmica e perene Andropogon arenarius, juntamente com Spartina ciliata, Androtrichum trigynum, e Hydrocotyle bonariensis, ocupam caracteristicamente as depressões secas. Um gradiente de umidade entre as depressões secas e úmidas gera modificações na dominância de Andropogon para Androtrichum trigynum nas  depressões úmidas inundadas durante o inverno. Imperata brasiliensis, Hydrocotyle bonariensis, Baccopa monieri e os juncos (Juncus acutus, Typha domingensis) são co-dominantes nas depressões úmidas. Plantas das depressões protegidas fornecem áreas de proteção e alimento para uma comunidade animal diversa. Entre os insetos as formigas são as espécies mais conspícuas. Outros habitantes dos slacks são carunchos (Listroderes uruguayensis), vespas (Tachytes ornatipes), grilos (Neotridactylus carbonelli) e os carabideos. Durante a noite, a coruja (Athene cunicularia), gambas (Conepathus chinga), tatus (Dasypus hybridus), lebres (Lepus capensis), e raposas (Dusicyon gymnocercus) fazem incursões alimentares nas dunas frontais.